Os agrotóxicos são produtos químicos sintéticos utilizados para a eliminação de pragas e possíveis ameaças a uma plantação. Elas supostamente, além de eliminar pragas, regulam o crescimento da vegetação e do ambiente rural; entretanto, dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostram que os agrotóxicos causam 70 mil intoxicações agudas e crônicas por ano e que podem evoluir para óbito. Outros mais de 7 milhões de casos de doenças agudas e crônicas não fatais também são registrados.
O Brasil é considerado o país com maior consumo de agrotóxicos desde 2008, consequência do massivo desenvolvimento do agronegócio no País. O agronegócio, setor voltado à produção em nível fabril de alimentos, teve sua modernização incentivada a partir de 1970, ainda durante a ditadura militar. Seu início foi nomeado de “Revolução Verde”, período conhecido pela automatização do espaço rural e, consequentemente, com a utilização dos agronegócios, produtos para o aumento da produtividade na monocultura.
Para Julia Dias, coordenadora do Programa de Consumo Responsável e Sustentável do Instituto de Defesa de Consumidores, parceiro da Cátedra Josué de Castro da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, o modelo monocultor depende drasticamente de agrotóxicos por sua vulnerabilidade. “A monocultura em larga escala torna os cultivos mais vulneráveis a pragas e doenças. Para manter a alta produtividade, o setor adota um pacote tecnológico dominado por grandes corporações, incluindo sementes geneticamente modificadas para resistir a herbicidas, criando um ciclo de dependência química.” E, em adição, há pouco ou nenhum incentivo para a redução da dependência desses produtos, como controle biológico de pragas, por exemplo. Para a coordenadora, a dependência é intencionalmente incentivada por motivações econômicas e políticas.
PAÍS DE COMMODITIES
Historicamente, o Brasil é um grande produtor de commodities, tanto para a exportação – cana-de-açúcar, milho e soja — quanto para consumo próprio, com insumos de arroz e feijão. Ao mesmo tempo, observa-se uma predominância de terrenos de cultivo para a exportação, que consomem um total de 76% do total de agrotóxicos utilizados no País. Para Tamara Andrade, especialista em regulação do Programa de Alimentação Saudável e Sustentável, o grande problema está nos perigos socioambientais oferecidos pelas substâncias.
“Acontece que seu emprego traz impactos socioambientais, como a contaminação da água e a poluição do solo. O glifosato, que é o agrotóxico mais vendido no Brasil e amplamente usado nessas culturas, já é detectável na água potável de áreas urbanas. Ele também é muito presente em alguns representantes da cultura alimentar brasileira, como café, feijão e tomate e tem uso permitido em mais de 30 culturas diferentes”, explica. Tamara também ressalta a importância da agricultura familiar, praticante de técnicas agroecológicas de cultivo na manutenção do consumo nacional interno.
O Idec investiga a presença de agrotóxicos em produtos ultraprocessados através da pesquisa Tem Veneno Nesse Pacote e, segundo Tamara, em todas as edições do estudo, ao menos metade dos produtos testados continha alguma contaminação por agrotóxico, principalmente pelo glifosato. “O que o Tem Veneno Nesse Pacote tem nos mostrado é que nem mesmo as extensivas técnicas industriais e aditivos alimentares que são aplicados na fabricação desses produtos parecem ser capazes de fazê-los perder os rastros de agrotóxicos”, afirma Tamara.
Fonte: Jornal da USP
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