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Adubação com micronutrientes: pequenas absorções, grande produtividade

Os micronutrientes ocorrem naturalmente nos solos em concentrações menores que os macronutrientes, com a sua quantidade influenciada diretamente pelo material de origem do solo e pelo grau de intemperização. Solos derivados de rochas basálticas, por exemplo, apresentam maior quantidade desses elementos em relação aos derivados de arenitos ou sedimentos orgânicos. Estes elementos são os utilizados em pequenas quantidades pelas plantas, mas, ainda assim, essenciais para completarem seu ciclo. São eles zinco (Zn), cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn), molibdênio (Mo), boro (B) e cloro (Cl). Existem ainda os elementos úteis ou benéficos, dos quais as plantas não necessitam para completar seu ciclo, mas auxiliam nos processos metabólicos dos vegetais, podendo gerar um aumento de produtividade em determinadas culturas, sendo eles cobalto (Co), silício (Si), selênio (Se) e níquel (Ni). A disponibilidade desses elementos para absorção das plantas é determinada por fatores como pH, textura, mineralogia, teor de matéria orgânica, umidade, condições de oxi-redução e interações entre os nutrientes. Cu, Fe, Mg e Zn se apresentam como cargas positivas no solo, ou cátions, tornando-se insolúveis em pHs mais elevados (acima de 7), enquanto o Cl e o Mo se apresentam com cargas negativas, ou ânions, tornando-se mais solúveis com o aumento do pH . Já o B se comporta como ácido bórico em pHs mais neutros, tornando-se disponível para as plantas ou como ânion em pHs mais altos, tornando-se indisponível.
Figura 1. Curva de disponibilidade de macro e micronutrientes de acordo com o pH.
Fonte: Instituto Agro, 2019.
O Fe é constituinte de inúmeros metabólitos da planta, como proteínas e enzimas e é essencial para a formação da clorofila. Portanto, a deficiência desse nutriente promove clorose internerval manifestada inicialmente nas folhas mais jovens, ao contrário da deficiência de magnésio (Mg) em que os mesmos sintomas ocorrem inicialmente nas folhas mais velhas. Em casos mais extremos, a deficiência de Fe promove completo branqueamento foliar. Sua absorção é na forma de cátion trivalente (Fe3+). A maioria dos solos contém grande concentração de Fe, mas devido a fixação, este elemento se encontra pouco disponível para as plantas. A calagem excessiva faz com que o pH do solo ultrapasse 7 o que induz a deficiência desse micronutriente. Solos com pH fora da faixa de 4,0 a 6,0, encharcados e com alto teor de matéria orgânica, ou com excesso de metais como Mo, Cu e Mn são naturalmente pobres em ferro. A concentração normal de ferro para análises foliares é de 50 a 150 mg kg-1 de matéria seca de folhas, conforme a espécie.
Figura 2. Deficiência de ferro em pessegueiro.
Fonte: Embrapa.
Figura 3. Deficiência de ferro em café.
Fonte: Notícias Agrícolas, 2021.
O Zn é constituinte de enzimas e tem papel chave na síntese de triptofano, o que faz com que sua deficiência prejudique a formação de auxinas como o ácido indolacético (AIA) responsáveis pelo crescimento da planta. A falta de Zn nas plantas promove pequena expansão foliar, clorose internerval das folhas mais novas, plantas com baixo crescimento, encurtamento dos internódios e formação de rosetas. Sua absorção é na forma de cátion bivalente (Zn2+). É bastante comum a deficiência em solos alcalinos, arenosos, lixiviados, com baixo teor de matéria orgânica ou em áreas com adubação fosfatada elevada, pois o fósforo em grandes quantidades prejudica a absorção de Zn. Altas concentrações de Zn no solo podem induzir a deficiências de ferro nas plantas. A concentração normal para análises foliares é de 27 a 150 mg kg-1 de matéria seca de folhas, conforme a espécie.
Figura 4. Deficiência de zinco em citrus.
Fonte: Mattos Júnior; Dirceu, 2009.
O Mn atua principalmente na ativação de enzimas, formação da clorofila e produção de aminoácidos. A deficiência desse elemento aparece inicialmente nas folhas mais jovens, com clorose internerval, aparecimento de pequenas manchas necróticas ou dimorfismo foliar. Em aveia a metade superior das folhas se curva em uma dobra enquanto o restante permanece ereto e verde. Em citros ocorre diminuição do tamanho das folhas, estreitamento das mesmas e formação de internódios mais curtos. Sua absorção é na forma de cátion bivalente (Mn2+). A deficiência desse elemento é mais comum em solos orgânicos alcalinos por calagem excessiva. A concentração normal de Mn para análises foliares é de 20 a 100 mg kg-1 de matéria seca de folhas, conforme a espécie.
Figura 5 e 6. Deficiência de manganês em pessegueiro (à esquerda) e em soja (à direita).
Fonte: Embrapa e Yara.
O Cu é constituinte de enzimas e essencial para processos de oxidação e redução. Sua deficiência provoca clorose nas pontas e nas margens de folhas mais novas, e encurvamento dessas áreas, fazendo com que as nervuras fiquem mais salientes. Promove ainda o murchamento de folhas e morte das regiões de crescimento dos ramos. Em gramíneas, promove encurvamento e escurecimento da cor da panícula. Sua absorção é na forma de cátion bivalente (Cu2+). A deficiência desse elemento é mais comum em solos de turfa e várzea ou arenosos com pH fora da faixa de 5,0 a 6,5. A adubação excessiva com nitrogênio (N), fósforo (P), Fe e Zn podem promover a deficiência de Cu pela interação negativa. A concentração normal de Cu para análises foliares é de 5 a 30 mg kg-1 de matéria seca de folhas, conforme a espécie.
Figura 7. Deficiência de cobre em tomateiro.
Fonte: Agrota.
O B é regulador do metabolismo de carboidratos e atua na germinação do pólen, formação do tubo polínico e na multiplicação das células. A deficiência gera formação de folhas pequenas, clorose irregular, deformadas e quebradiças e morte do meristema apical inicialmente do ramo principal, seguido pelos ramos laterais. Em tomateiro e eucalipto, a deficiência pode promover rachaduras no caule. Em cafeeiro e citros promove superbrotamento, fazendo com que a planta tenha aspecto de roseta. Sua absorção é na forma de ácido bórico (H3BO3). Solos arenosos, com baixos teores de matéria orgânica, com pH fora da faixa de 5,0 a 7,0 e em períodos de pluviosidade excessiva ou muito baixa podem acarretar em deficiência desse micronutriente. A concentração normal de boro para análises foliares é de 1 a 6 mg kg-1 de matéria seca de folhas nas monocotiledôneas, 20 a 70 mg kg-1 nas dicotiledôneas e 80 a 100 mg kg-1 nas dicotiledôneas produtoras de látex, conforme a espécie.
Figura 8. Deficiência de boro em cafeeiro.
Fonte: CaféPoint.
Figura 9. Deficiência de boro em citrus.
Fonte: Agronômica.
O Mo é essencial para a fixação biológica de N e na redução do nitrato nas plantas. A deficiência se manifesta como clorose generalizada, manchas amarelo-esverdeadas em folhas mais velhas, seguida de necrose dos tecidos. Pode ocorrer ainda murchamento da margem e encurvamento do limbo foliar. As leguminosas e brássicas (como couve-flor, repolho e brócolis) são especialmente sensíveis a deficiência de Mo. Sua absorção é na forma de ânion molibdato (MoO2−4). A deficiência desse elemento ocorre principalmente em solos arenosos ácidos, com pH menor que 5,5 ou com níveis elevados de S e Cu. A concentração normal de molibdênio para análises foliares é inferior a 1 mg kg-1 de matéria seca de folhas.
Figura 10 e 11. Deficiência de molibdênio em citrus (à esquerda) e em beterraba (à direita).
Fonte: Instituto Agro.
O Cl não é encontrado em nenhum metabólito nas plantas, mas pesquisas mostram relação com neutralização de cátions e equilíbrio osmótico da planta. A insuficiência gera redução no tamanho das folhas e clorose, bronzeamento e necrose de folhas novas. Sua absorção é na forma de ânion monovalente (C). A deficiência desse elemento é pouco observada, mas ocorre geralmente em solos mal drenados. A concentração normal de cloro para análises foliares é de até 3 g kg-1 de matéria seca de folhas, em espécies como coqueiro e dendê. Principais fontes de micronutrientes As principais formas de adubação com micronutrientes é através das fritas, quelatos, ácidos sais e óxidos. As fritas, ou FTE (Faited Trace Elements) são compostos obtidos pela fusão a 1300°C dos micronutrientes com sílica e boratos. Há diferentes formulações com a presença ou não de alguns micronutrientes e em diferentes concentrações. Os quelatos naturais ou sintéticos são moléculas que atuam como ligantes, removendo o micronutriente da solução do solo e o tornando disponível para as plantas. Os principais ácidos, sais e óxidos utilizados como fontes de micronutrientes são: bórax, sulfato de cobre, sulfato ferroso, óxido ferroso, sulfato manganoso, óxido manganoso, molibdato de sódio e sulfato de zinco.
ProdutoPorcentagemKg ha-1 do elemento
Bórax11 % de boro0,3-0,6
Sulfato de cobre25 % de cobre2-7
Sulfato ferroso19 % de ferro1-25
Óxido ferroso77 % de ferro1-25
Sulfato manganoso28 % de manganês10-150
Óxido manganoso63 % de manganês10-150
Molibdato de sódio39 % de boro20-200
Sulfato de zinco35 % de zinco2-6
A faixa de disponibilidade considerada adequada na interpretação de análise de solo, varia conforme a cultura, mas na média temos que, extraído por Mehlich 1, para o boro seria entre 0,3 e 0,6 mg dm-3, para o cobre seria entre 0,5 e 1,2 mg dm-3, para o ferro seria entre 19 e 30 mg dm-3, para o manganês seria entre 2 e 8 mg dm-3 e para o zinco seria entre 1,0 e 1,6 mg dm-3.
Figura 12. Diagnose visual de deficiência nutricional.
Fonte: Matos, Gilson Sergio Bastos, 2020.
Elaborado por Casa do Produtor Rural Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ/USP Marina de Ferran Tessari Graduando em Engenharia Agronômica Estagiária – Casa do Produtor Rural – ESALQ/USP Acompanhamento técnico Mayara Martins e Martins Doutoranda em Solos e Nutrição de Plantas – ESALQ/USP Coordenação editorial Marcela Matavelli Agente de Comunicação DRT 5421SP Casa do Produtor Rural
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