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Cebola: manejo eficiente favorece a produtividade e a qualidade da hortaliça

A cebola (Allium cepa L.) ocupa lugar de destaque entre as hortaliças no Brasil, pertencente à família Amaryllidaceae e foi domesticada na Ásia Central. É um alimento que proporciona diversos benefícios à saúde humana, como a prevenção do câncer. A composição nutricional é de aproximadamente, 89% de água, 8,4% de carboidratos, 1,2% de proteínas, 0,7% de fibras, 0,4% de cinzas e 0,2% de ácidos graxos. Conta também com diversas vitaminas, dentre elas A, C, E, B1 e B2. 

No mercado são comercializadas cebolas amarelas (mais frequentes), roxa, branca, doce, além de chalotas (bulbos de tamanho reduzido). No Brasil, as principais regiões produtoras são: Irecê (BA), Vale do São Francisco (BA/PE), Cristalina (GO), Santa Juliana (MG), Piedade (SP), Divinolândia (SP), São José do Rio Pardo (SP), Monte Alto (SP), São José do Rio Pardo (SP), Iratí (PR), Ituporanga (SC) e Lebon Régis (SC), segundo dados do Cepea.

Em relação à fisiologia, o ciclo é bienal, ou seja, no primeiro ano ocorre a fase vegetativa, resultando na formação do bulbo, e apenas no segundo ano há produção de sementes (fase reprodutiva). A bulbificação somente ocorrerá se condições de fotoperíodo e temperatura mínima forem atendidas. É importante se atentar para outros fatores, antes da implantação, como a época de plantio, condições climáticas, tamanho e vigor das mudas utilizadas, densidade populacional, adubação, além de pragas e doenças presentes na lavoura.

Figura 1. Cebola Amarela (Allium cepa L.)
Fonte: Embrapa.

As cebolas podem ser divididas em cultivares de dias curtos, intermediários e longos. O fator de diferenciação é a quantidade de luz necessária para o desenvolvimento da hortaliça. Assim, bulbos de dias curtos são utilizados no inverno e os de dias longos, no verão. No semiárido, a variedade mais utilizada é a IPA-11, recorrente na região do Vale do São Francisco (BA/PE). Já no Sul do Brasil (regiões tradicionalmente produtoras), são cultivadas as variedades Precoce, Bola Precoce e Crioula as quais apresentam especificidades de manejo. Estas cebolas normalmente são armazenadas em galpões, por um período de 2 a 3 meses, e às vezes no próprio campo, para que realizem o período de cura. No decorrer do armazenamento, a casca da cebola é formada. 

As cebolas devem ser colocadas lateralmente nos canteiros, durante o período de cura em locais secos. Este processo tem duração de aproximadamente 3 a 4 dias. É recomendável que evite a incidência direta de luz, para reduzir o aparecimento de manchas de queimadura, durante a cura de campo. Já em regiões úmidas, o tempo necessário para a cura tende a ser mais extenso. Quando alocadas nas roças, neste período, a temperatura ideal é de 24 °C, a umidade relativa varia de 75% a 80%. Assim, as cascas apresentam formação mais uniforme, e ficam com mais tempo de prateleira. 

Para a implantação, o método mais usual é o transplantio de mudas. A semeadura direta é a mais recomendada para áreas extensas. Outra técnica empregada é o transplantio de bulbinhos para áreas reduzidas, estritamente no Estado de São Paulo. A grande vantagem está relacionada à valorização das cotações da hortaliça, frente ao mercado nacional. Isto porque, na época em que são ofertadas são consideradas como entressafra, período de menor oferta, e consequentemente, maiores preços. Apesar desta vantagem, a instalação é custosa quando comparada aos demais métodos, principalmente em função da alta exigência de mão de obra.

As principais perdas na cebolicultura são decorrentes de problemas fitossanitários como, a antracnose, a queima das folhas, a raiz rosada, bacterioses e o míldio, oriundo de fungos e bactérias fitopatogênicos que podem se proliferar rapidamente pela lavoura. A aplicação de defensivos agrícolas, como fungicidas e bactericidas, são essenciais no combate a estas adversidades. 

As doenças bacterianas são as mais recorrentes em virtude do elevado teor de água. As principais bacterioses são: a podridão mole, que causa danos generalizados nas plantas, tornando-a mole e a podridão das escamas, conhecida popularmente como “camisa d´água”, que leva ao descarte do produto devido ao escurecimento interno do bulbo.

Dentre as doenças fúngicas, a antracnose (Colletotrichum gloeosporioides) leva a formação de manchas escuras nas camadas externas dos bulbos, e pode causar o tombamento e estiolamento de mudas ou até a morte da planta. A raiz rosada (Pyrenochaeta terrestres) pode causar danos em todos os estágios de desenvolvimento da planta. Uma vez infectada, as raízes ficam com um aspecto rosado, e aos poucos se tornam avermelhadas, púrpuras, pardas e pretas (indicando o avanço da doença). Os tecidos do sistema radicular podem ser severamente afetados levando a morte da planta.

O míldio (Peronospora destructor) se desenvolve em temperaturas intermediárias (20 °C) e alta umidade relativa. Nas folhas, há o surgimento de lesões elípticas, podendo ou não estar recoberta por esporângios esbranquiçados, beges ou violetas. Pequenas manchas brancas são facilmente detectadas conforme o desenvolvimento da doença. Os bulbos infectados, não atingem o máximo desenvolvimento, reduzindo a produção. Estudos apontam que a deficiência de fosforo e potássio, intensificam o surgimento da doença. 

Uma doença fúngica, de difícil identificação no campo, é a queima das pontas (Botrytis squamosa). O reconhecimento é dificultado, pois a seca nas pontas das folhas pode ser confundida com a mancha-púrpura (Alternaria porri). O Botrytis é capaz de se dispersar a longas distâncias e tornar os bulbos mais suscetíveis a contaminação por outros patógenos. Na pós-colheita, os bulbos que apodrecem por completo são descartados.

A mancha-púrpura (Alternaria porri), popularmente conhecida como queima das pontas, tem maior importância nos plantios da região Nordeste. Os sintomas são observados nas folhas, hastes e bulbos. São perceptíveis manchas esbranquiçadas, que ao se desenvolverem alongam-se, em zonas concêntricas escuras conjuntamente a bordas púrpuras.

É importante ressaltar que grande parte desses patógenos fúngicos permanecem vivos no solo, em estruturas de resistência ou restos culturais, podendo contaminar safras futuras, portanto, práticas culturais, como manter o solo bem drenado (evitando baixadas), rotação de culturas com gramíneas, eliminação de restos culturais e evitar áreas contaminadas são medidas que auxiliam no controle das doenças. Escolher cultivares resistentes aos patógenos e fazer o controle químico preventivo com produtos adequados são alternativas eficazes. 

Das doenças virais, a mais importante é a “Sapeca”, causada pelo “tospovirus”- IYSV, que afeta principalmente a região do Vale do São Francisco. Ocorre o surgimento de manchas necróticas nas folhas e hastes florais, além da diferenciação de coloração das folhas, metade delas torna-se esbranquiçada, enquanto o restante permanece com a cor natural. O vírus é transmitido pelo o tripes (Thysanoptera), pertencente a ordem Thysanoptera. 

O controle de viroses é mais complexo, pois há diversas espécies hospedeiras, o que dificulta a erradicação. Medidas que diminuem a incidência são, o uso de variedades resistentes (como a Vale Ouro IPA 11), o controle do vetor e a realização de plantios afastados de áreas infectadas.

Tabela 1. Principais ingredientes ativos e doses recomendadas pelo MAPA para aplicação contra os diferentes patógenos da cebola.

DoençaIngrediente ativo
Mancha púrpura(Alternaria Porri)Sulfato de Cobre (inorgânico) + Oxitetraciclina (antibiótico);Tebuconazol (triazol);Folpete (dicarboximida).
Míldio(Peronospora destructor)Oxicloreto de Cobre (inorgânico);
Fenamidona (imidazolinona);
Folpete (dicarboximida).
Queima-das-pontas(Botrytis squamosa)Mancozebe + Oxicloreto de Cobre
Antracnose(Colletotrichum gloeosporioides cepae, C. circinans)Tiofanato- metílico (benzimidazol)Quintozeno (cloroaromático).

Adaptado de Embrapa.

Para a implantação da cultura, o espaçamento recomendado deve ser de 25-35 cm entre linhas, e 5-10 cm entre plantas. É importante realizar a análise de solo para verificar se a acidez e a fertilidade do solo estão ideais para o plantio. 

É recomendado que o solo seja profundo, rico em matéria orgânica e com boa capacidade de retenção de água, preferencialmente de textura média para o melhor desenvolvimento dos bulbos. 

Durante a preparação do solo recomenda-se a aração e a gradagem da área. A finalização do preparo depende do método a ser utilizado. Na semeadura direta é necessário destorroar o solo, para uniformizá-lo, no momento de distribuição das sementes. Neste caso é a aconselhável a realização de canteiros, para melhorar a drenagem. Durante o transplantio de mudas, o encanteiramento e o sulcamento são indicados, assim como para o método de plantio de bulbinhos. Durante a adubação, corretivos de acidez são de extrema importância para elevar a saturação por bases. A quantidade de calcário dependerá do resultado da análise de solo. Para uma boa produção recomenda-se a adição de nitrogênio e potássio no plantio de cobertura, além de fósforo, enxofre, zinco e boro. A quantidade varia de solo para solo.

O manejo e o controle das plantas daninhas devem ser intensificados no primeiro mês após o transplantio, período considerado mais crítico. Os herbicidas mais recomendados se tiver sido feito o transplantio são Fluazifop-p-ethyl, Trifluralin, Linuron e para semeadura direta são Fluazifop-p-ethyl, Oxyfluorfen e Linuron.

A irrigação é de extrema importância no cultivo, já que a cebola é composta por cerca de 90% de água, e o seu bom uso aumenta a qualidade e produtividade da hortaliça. O período mais crítico ao déficit hídrico é na bulbificação, devido às necessidades das plantas nesta fase do desenvolvimento. Os sistemas usados são: pivô central, irrigação por inundação, aspersão e gotejamento (região de RN).

No Brasil, a colheita das cebolas, em sua maior parte, é realizada manualmente, ou de forma semi-mecanizada e se inicia com o tombamento da folhagem, também conhecido como “estalo”. Em seguida, as cebolas passam pelo processo de cura, para a remoção do excesso de água das camadas mais superficiais do bulbo, acarretando na diminuição da umidade das raízes, auxiliando na formação dos catafilos – folhas reduzidas que protegem as gemas dormentes. Após colhida, realiza-se a limpeza (ou toalete) do bulbo. Ao final do processo, a hortaliça é beneficiada e transportada aos locais de comercialização.

No beneficiamento, as cebolas são passadas por máquinas classificadoras e separadas por tamanhos. Os calibres são divididos em caixa 1, 2, 3 e 4, de acordo com os respectivos tamanhos (crescente).  As caixas que apresentam maior liquidez no mercado são a caixa 3 e 4.

Os principais constituintes dos custos de produção da cebola são o arrendamento da terra (23,45%), a mão de obra (18,56%), os defensivos (13,19%), as sementes (10,79%) e outros (34,01%). Estes custos se diferenciarão para produtores detentores de sua própria terra.

O consumo de cebola não se altera frente às oscilações de preços, por ser inelástico e utilizado no cotidiano dos brasileiros. Por ser um produto altamente sensível à oferta, as cotações se modificam consideravelmente frente ao mercado, podendo garantir, em alguns casos, lucros significativos ao produtor. 

Dessa forma, em períodos de baixa oferta, os cebolicultores tendem a obter rentabilidade positiva, porém em épocas de pico de safra, o preço da hortaliça é fortemente pressionado.

Elaborado por Casa do Produtor Rural Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ/USP Andréa Cimino Gonzalez Rodrigues Graduanda em Engenharia Agronômica Estagiária – Casa do Produtor Rural – ESALQ/USP Acompanhamento técnico Marcelo B. Santoro Engenheiro Agrônomo – CREA: 5062275388 Casa do Produtor Rural Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ/USP Coordenação editorial Marcela Matavelli Agente de Comunicação DRT 5421SP Casa do Produtor Rural
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