Artigos

Controlando pragas sugadoras e preservando inimigos naturais em algodoeiro

O cultivo do algodoeiro nos Cerrados brasileiros exige muitos esforços para evitar prejuízos provocados pela ocorrência de pragas. Um grupo de insetos que tem causado perdas expressivas é o dos sugadores, que causam danos diretos ou indiretos às plantas. Pulgões, moscas-brancas, tripes, ácaros e percevejos podem debilitar e mesmo matar plantas de algodoeiro pela sucção da seiva ou pela transmissão de viroses, ou comprometer sua produção, pelo ataque direto às estruturas florais ou contaminação da pluma.

Pulgões

O pulgão-do-algodoeiro (Aphis gossypii) é uma das primeiras pragas que ocorrem no algodoeiro, podendo ser detectada logo após a germinação das plantas. Esse inseto polífago se mantém em várias espécies de plantas, inclusive plantas silvestres, de onde migra para plantas de algodoeiro em estágio inicial de desenvolvimento vegetativo. Uma vez na cultura do algodoeiro, quando em baixa densidade populacional, o pulgão é um importante bioindicador. Por servir de alimento para vários inimigos naturais, sua presença quando em baixa quantidade indica a possibilidade da manutenção de espécies benéficas, que fazem seu controle e o controle de outras pragas importantes da cultura. Quando em alta densidade populacional, causa injúrias na planta pela sucção contínua de seiva e comprometimento do processo de fotossíntese, ou compromete a pluma quando sua excreção cai sobre ela, formando o algodão caramelizado.

Mosca-branca

Populações de mosca-branca (Bemisia tabaci biótipo b) são observadas na cultura do algodoeiro principalmente pela migração destes insetos oriundos de culturas vizinhas em senescência, como feijão e soja. Embora não seja hospedeiro preferencial do inseto, o algodoeiro recebe estas populações que, quando em alta densidade, promovem injúrias severas. Durante o processo de alimentação nas folhas do algodoeiro, a mosca branca injeta toxinas com a saliva, que causam deformação, paralisação do crescimento e diminuição da capacidade de produção de estruturas reprodutivas.

Tripes

Infestações de tripes (Frankliniella schultzei) são verificadas no início do cultivo do algodoeiro, logo após a emergência ou, mais raramente, após o início da fase reprodutiva das plantas. Esses insetos comprometem o desenvolvimento de plantas novas, causando superbrotamento devido à quebra da dominância apical. Sua ocorrência em fases mais adiantadas da cultura, após o florescimento, não costuma causar problemas, uma vez que o inseto fica se mantendo nas flores das plantas, sem comprometimento do desenvolvimento ou da produção.

Figura 1. Tripes em flores do algodoeiro.
Fonte: Bruna Tripode.

Ácaros

Ácaros (Tetranycus urticae e Polyphagotarsonemus latus) ocorrem inicialmente em reboleiras mas sua dispersão é facilitada pelo vento e pela aplicação de alguns inseticidas, como os do grupo dos piretróides, por serem incitantes de movimentação. Seus ataques encurtam o ciclo das plantas, bem como comprometem sua capacidade produtiva, as maçãs têm desenvolvimento anormal e a fibra é comprometida em sua qualidade. As espécies mais frequentes são o ácaro rajado e o ácaro branco.

Percevejos

A espécie de percevejo sugador mais importante na cultura do algodão e que costuma ser proveniente da cultura da soja é o percevejo-marrom (Euschistus heros). Estes insetos promovem injúrias nos botões florais e maçãs, causando deformações, atrofiamento e abscisão. Deve ser dada atenção ao fato de que na cultura do algodão ocorrem tanto percevejos fitófagos como predadores. Percevejos predadores controlam várias pragas, especialmente lagartas. Morfologicamente, os percevejos fitófagos se diferem dos predadores pelo aparelho bucal: enquanto os fitófagos apresentam um rostro (“bico”) fino e comprido, prolongando-se até o segundo par de pernas; os predadores apresentam o rostro curvo e curto, que não ultrapassa o primeiro par de pernas.

Injúrias causadas por sugadores

A sucção contínua de seiva por pulgões, moscas-brancas e tripes promove vários tipos de injúrias, como deformação de folhas, desenvolvimento anormal da planta, comprometimento da fotossíntese e comprometimento da qualidade da fibra devido à contaminação por seus excrementos. Percevejos sugam as maçãs, causando sua deformação e o efeito “bico de papagaio”, fato que impede sua abertura normal e colheita da fibra. Ácaros causam necrose e queda de folhas, comprometendo a produção de fotossíntese e o desenvolvimento da planta.

Figura 2. Infestação por ácaro-rajado.
Fonte: Bruna Tripode.

Medidas de controle de sugadores

Controle climático: fatores climáticos podem favorecer o desenvolvimento de sugadores ou, ao contrário, exercer controle físico natural de suas populações. Tempo nublado, quente e úmido favorece o desenvolvimento e a reprodução de ácaros brancos. Veranicos favorecem a ocorrência de ácaros rajados. Períodos de alta temperatura e baixa umidade também são propícios para o aumento de populações de tripes. Por outro lado, chuvas fortes reduzem o nível populacional de insetos sugadores em geral, pelo controle físico das gotas sobre os insetos.

Controle químico: o uso de inseticidas ou acaricidas de amplo espectro frequentemente induz a um aumento no número de aplicações durante a safra, devido à eliminação dos inimigos naturais. O produtor deve preferencialmente optar, por este motivo, por produtos seletivos. Inseticidas de ação sistêmica, aplicados no tratamento de sementes são menos prejudiciais aos inimigos naturais. O tratamento de sementes protege as plântulas de algodoeiro por até 30 dias após sua germinação. Caso o ataque ocorra após o final do período residual do tratamento de sementes, o uso de inseticidas sistêmicos, como neonicotinóides, e de ação translaminar, como espinosinas, via pulverização aérea, será indicado. Inseticidas reguladores de crescimento como buprofezin e pyriproxifeno, também são seletivos a inimigos naturais e letais para formas jovens de sugadores.

Controle varietal: método de controle de grande vantagem ecológica no manejo de pulgões, o uso de variedades resistentes preserva as populações de inimigos naturais presentes na lavoura. Isto ocorre porque os níveis de controle adotados podem ser menos rigorosos nas variedades resistentes que nas suscetíveis, possibilitando a ação concomitante dos inimigos naturais que predam ou parasitam os pulgões e outras pragas da cultura. Pulgões transmitem o vírus do mosaico das nervuras, que causa a doença azul. Variedades resistentes ao vírus, mesmo se infectadas, não desenvolvem a doença.

Controle cultural: a eliminação de plantas daninhas hospedeiras, plantas voluntárias ou soqueira de algodão, reduz os focos iniciais de sugadores, pois suprime os indivíduos que completariam o desenvolvimento nestes alimentos alternativos. A destruição de plantas soqueiras após a colheita auxilia decisivamente na supressão de infestações de sugadores no final do ciclo do algodoeiro, o que vai repercutir positivamente nas safras seguintes das culturas de verão.

Controle biológico: entre os inimigos naturais de pragas sugadoras, há várias espécies de predadores, parasitóides e microorganismos entomopatogênicos. Alguns são de ocorrência natural, necessitando serem conservados nos ambientes agrícolas; outros são liberados por inundação (grande número de indivíduos de uma só vez para reduzir rapidamente a praga, sem expectativa de efeito contínuo); outros liberados por inoculação (pequeno número de indivíduos, liberados uma ou mais vezes, com intuito que se multipliquem no ambiente).

Parasitoides de ovos, larvas ou ninfas são agentes de controle biológico específicos para cada praga-alvo. Liberações inundativas de parasitóides contribuem muito para a redução de populações de sugadores. Predadores como microvespas das espécies Lysiphlebus testaceipes, Aphelinus gossypii e Encarsia formosa, entre outras, controlam sugadores.

Insetos predadores são generalistas, o que facilita sua manutenção na área agrícola, visto que, na falta de um hospedeiro, eles buscam outros. As espécies mais comuns são os percevejos Geocoris sp. e Orius insidiosus, as joaninhas Cycloneda sanguinea e Coleomegilla maculata, o bicho-lixeiro Chrysoperla externa, e a vespa Polistes versicolor.

Os fungos entomopatogênicos causam infecção devido à germinação de seus esporos quando penetrado na cutícula do inseto. Entre os fungos entomopatogênicos, destacam-se no controle de sugadores as espécies Metarhizium anisopliae, Cordyceps javanica, Beauveria bassiana e Paecilomyces fumosoroseus. Produtos à base de fungos entomopatogênicos registrados para o controle de sugadores já estão disponíveis no mercado brasileiro.

Tomada de decisão

Embora a ocorrência de insetos sugadores na cultura do algodoeiro seja comum, estes insetos somente causam danos quando atingem o nível de dano econômico. A amostragem constante de suas populações no campo e da presença de seus inimigos naturais, a observação do clima e das eventuais causas de migração (culturas vizinhas em senescência ou plantas hospedeiras nas proximidades) são fatores decisivos para uma boa tomada de decisão. A combinação dos diversos métodos de controle mencionados e ação no momento mais propício são essenciais para um controle eficiente das populações de praga sugadoras.

Elaborado por
José Ednilson Miranda
Bruna Diniz Mendes Tripode
Valeria da Silva Jardim
Ana Mônica Teixeira Saraiva
Embrapa Algodão

Fonte: Revista Cultivar

Deixe um comentário

  • Qualidade
Link para o WhatsApp