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Controle de brusone em arroz

O arroz (Oryza sativa) é um dos principais cereais cultivados no mundo, após o trigo e o milho. Em 2021, a produção brasileira foi de 11,7 milhões de toneladas em 1,68 milhões de hectares, alcançando um rendimento médio de 7,0 ton/ha. 90% da produção vem de sistemas irrigados localizados principalmente nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, os demais 10% são produzidos por sequeiro principalmente nos estados de Mato Grosso, Maranhão e Rondônia.

A brusone é a principal doença que pode acometer a cultura, causando perdas de até 100%. A maior incidência é observada no sistema sequeiro, especificamente na região Centro-Oeste, onde o clima favorece a doença. É causada pelo fungo Magnaporthe grisea, correspondente a fase anamórfica do Pyricularia oryzae, que pode atacar também o milho e o trigo.

O fungo é favorecido por temperaturas que variam de 10 a 35ºC, com liberação dos esporos a partir de 15ºC. Entretanto, a germinação ocorre entre 25 e 28ºC com a presença de umidade geralmente acima dos 90% As estruturas de resistência do patógeno (conídios e micélios) são formadas sobre as lesões na planta, com umidade relativa do ar acima de 93%. Os processos de germinação e crescimento do fungo são inibidos pela luz, por isso geralmente os esporos são liberados durante a noite.

Os conídios e micélios da Pyricularia podem permanecer vivos nas sementes e em restos culturais nas áreas de plantios sucessivos de arroz, servindo de fonte de inóculo primário auxiliando na sobrevivência do patógeno, permitindo a disseminação da doença para áreas vizinhas por meio dos ventos.

O fungo interfere em todas as fases do ciclo da cultura, apresentando sintomas na parte aérea atacando órgãos como, folhas, colmos, panículas e grãos. Nas folhas, observam-se pontuações amarronzadas que se desenvolvem em manchas elípticas na direção das nervuras, com centro necrótico com coloração acinzentada (Figura 1), atingindo grandes proporções preenchendo boa parte da folha, prejudicando o processo fotossintético. Em condições de seca e contaminação na fase inicial de desenvolvimento, o patógeno pode causar a morte da planta. A principal fase suscetível é até aos 60 dias do início do cultivo, tornando-se mais tolerante ao fungo após essa etapa.

Figura 1. Sintoma de brusone nas folhas de arroz.
Fonte: The American Phytopathological Society (APS).

No colmo são observadas manchas escuras em formato de elipse na região dos entre nós (Figura 2A), que se desenvolve em seu comprimento, ocupando grande parte da estrutura. Os nós apresentam lesões de coloração marrom que, com o tempo, podem promover a quebra do colmo.

Nas panículas, as lesões podem ser iniciadas pela raque, nó basal e ramificações, e toda a estrutura pode ser tomada pelos sintomas da brusone. Nas ramificações surgem manchas marrons e os grãos se tornam chochos e secos. Quando a infecção ocorre no nó basal da panícula a doença é conhecida também como brusone de pescoço (Figura 2B).

Figura 2. Sintomas de brusone na região dos entre nós dos colmos (A); Brusone do pescoço em arroz (B).
Fonte: Embrapa (A); The American Phytopathological Society (APS) (B).

O período de enchimento de grãos, entre 10 a 20 dias após a emissão da panícula (quando passam de leitoso a pastoso), é onde a planta novamente é mais susceptível ao fungo. Nessa fase, a doença provoca grãos chochos e toda a panícula adquire coloração esbranquiçada. Quando a infecção ocorre tardiamente, os grãos reduzem o peso e há quebra da panícula, sintoma conhecido por pescoço quebrado. De acordo com a época do ataque do fungo, a panícula apresenta diferenciados sintomas nos grãos.

Figura 3. Sintomas de brusone nos grãos.
Fonte: Elevagro.

O processo de plantio do arroz também influencia na incidência da doença, por isso, recomenda-se que seja feito logo ao final do ciclo anterior, preferencialmente no mês de outubro para coincidir com a época das chuvas. A chuva realiza a lavagem dos esporos presentes na planta, diminuindo a severidade da doença nos estágios iniciais de desenvolvimento do fungo. O atraso da semeadura pode ser prejudicial pela possibilidade de contaminação dos patógenos na área de cultivo e em propriedades vizinhas.

As sementes contaminadas deixadas na superfície do solo, principalmente após o período de chuva, podem servir de inóculo primário para a doença, por isso a profundidade do novo plantio deve ser de 2 cm de profundidade. O espaçamento e a densidade utilizados de forma adequada, contribuem para o arejamento das plantas, desfavorecendo a doença. Desse modo, recomenda-se maior distância nas entrelinhas e entre plantas, limitando-se a, no máximo, 80 sementes por metro linear. No sistema de sequeiro são de 60 a 70 sementes por metro para variedades precoces e de 50 a 60 para as de ciclo médio. Com isso, ocorre uma diminuição da competição por água e nutrientes, tornando as plantas mais resistentes ao ataque de patógenos. Estudo com espaçamento de entrelinhas diferentes (10, 20 e 30 cm) mostrou que a maior distância apresentou menor severidade da brusone nas plantas. Nas cultivares de ciclo médio e em locais de grande período de estiagem o espaçamento recomendado é de 50 cm nas entrelinhas, no cerrado é de 40 cm por apresentar chuvas mais regulares.

A adubação tem papel fundamental, pois tanto o excesso quanto a deficiência de nutrientes na planta aumentam os danos causados pela doença nas folhas e na panícula. O nitrogênio, quando em quantidades indesejáveis diminui o teor de silício na planta tornando-a mais suscetível às doenças em geral. O silício faz parte da composição da parede celular do arroz e aumenta a resistência da planta com relação à penetração do fungo no tecido vegetal. Algumas pesquisas indicam que a aplicação de nitrogênio (N) de forma parcelada é mais eficiente. No período de 30 a 50 dias após a germinação das sementes, deve-se evitar a aplicação de N em cobertura. Outro nutriente importante é o fósforo (P), responsável pelo aumento da área foliar da planta, por isso deve ser utilizado adequadamente durante o cultivo.

No campo recomenda-se a manutenção de barreiras físicas ao redor da lavoura, eliminação dos restos culturais de ciclos anteriores e de plantas invasoras, que além de servirem como hospedeiros do fungo formam um microclima ideal para o desenvolvimento do patógeno. O período de colheita é importante no controle da doença, o atraso pode ocasionar a infecção por fungos parasitas e aumentar a incidência de brusone. Os grãos devem colhidos com umidade próxima de 22%, ou seja, com 2/3 dos grãos da panícula maduros.

O controle do fungo pode ser cultural e químico, visando a redução dos efeitos causados pela doença. O manejo cultural é considerado preventivo, tornando as condições da área de cultivo desfavoráveis ao desenvolvimento do patógeno, além do uso de variedades resistentes.

Em arrozal irrigado, dentre as medidas culturais, o manejo da lâmina de água da cultura proporciona um microclima estável, prejudicando o desenvolvimento da doença, evitando situações de estresse hídrico na planta, tornando-a mais resistente ao patógeno.

Em sistema sequeiro as medidas culturais são feitas anteriormente ao plantio, com o preparo adequado e profundo do solo, o que permite que o sistema radicular do arroz alcance maiores profundidades e proporcione à planta maior capacidade de enfrentar o estresse hídrico.

O controle químico da brusone, tanto em cultivo sequeiro quanto em irrigado pode ser feito com pulverização de fungicidas na parte aérea da planta ou no tratamento de sementes. A pulverização se faz no início do período de emissão das panículas. Os princípios ativos permitidos para a atividade orizícola são mancozeb, tetraconazol, azoxistrobina, difenoconazol, fludioxonil, propiconazol e tebuconazol. O tratamento de sementes é feito com fungicidas sistêmicos como, pyroquiton e carboxin, que protegem a planta durante o crescimento vegetativo.

O uso de cultivares resistentes, principalmente para o arroz de sequeiro, é a prática de controle economicamente mais viável. Para a brusone, as variedades Confiança, Canastra e Maravilha expressam maior resistência que as Rio Paraíba, Primavera, Caiapó e Guarani. Mesmo, sendo resistente, essas cultivares podem apresentam lesões, porém menores, assim como os níveis de esporulação do fungo.

Elaborado por
Casa do Produtor Rural
Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ/USP
Douglas Augusto de Lima Cavalli
Graduando em Engenharia Agronômica
Estagiário – Casa do Produtor Rural – ESALQ/USP

Acompanhamento técnico
Fabiana Marchi de Abreu
Engenheira Agrônoma
CREA 5061273747
Casa do Produtor Rural

Coordenação editorial
Marcela Matavelli
Agente de Comunicação
DRT 5421SP
Casa do Produtor Rural

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