Notícias

Especialistas defendem medições integradas de emissões de efeito estufa nas fazendas

Sistemas agropecuários sustentáveis têm potencial para reduzir as emissões de gases estufa no Brasil, mas para isso são necessários mais recursos para medições de campo em regiões com poucos dados, como Norte e Nordeste

Atualmente, a atividade agropecuária é responsável por 25% das emissões de gases de efeito estufa no Brasil, tendo como principal fonte o metano (CH4) originado da pecuária, onde há aproximadamente 110 milhões de hectares de pastagens degradadas e pouco produtivas. Apesar dos números, pesquisadores da USP, em Piracicaba, avaliam em artigo que a adoção de práticas de Climate-Smart Agriculture (CSA), em especial os Sistemas Integrados de Produção Agropecuária (Sipas), voltados para uma maior sustentabilidade e resiliência econômica, social e ambiental, possuem elevado potencial para reduzir a emissão de gases, inclusive usando o solo na retenção do metano. Para alcançar essa meta, os cientistas defendem mais recursos para aumentar as medições de campo em regiões com poucos dados sobre emissões, como o Norte e o Nordeste.

O artigo publicado na revista científica Journal of Cleaner Production é resultado de um estudo feito por pesquisadores do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) e da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba. “Neste trabalho, buscamos responder à seguinte pergunta: qual é o potencial de mitigação das emissões dos gases de efeito estufa com a adoção de práticas de CSA no Brasil?”, afirma o professor Maurício Roberto Cherubin, professor do Departamento de Ciência do Solo da Esalq e vice-diretor do Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical (CCarbon).

Os autores desenvolveram um estudo sistemático da literatura científica sobre as medições desses gases no campo, já revisadas por pares e publicadas. Segundo o artigo, a agricultura brasileira está continuamente avançando em direção a uma produção mais sustentável. Desde o surgimento do Sistema de Plantio Direto (SPD), há mais de 50 anos, até sua evolução em Sistemas Integrados de Produção Agropecuária, como a Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), o País tem adotado soluções baseadas na natureza para aumentar a produtividade das culturas e reduzir os impactos ambientais.

Atualmente, o Brasil é referência mundial no uso de práticas de manejo sustentáveis na agropecuária, com mais de 35 milhões de hectares sendo cultivados sob sistema de plantio direto e mais de 17 milhões de hectares em sistemas integrados de produção agropecuária, como a integração lavoura-pecuária (ILP) e lavoura-pecuária-floresta (ILPF). Por outro lado, estima-se que ainda existem aproximadamente 110 milhões de hectares de pastagens pouco produtivas e em algum estágio de degradação.

Desafio
Sistemas como SPD, Sipas e pastagens recuperadas no Brasil estão incluídos em projetos de agricultura de baixo carbono (ABC+) e, internacionalmente, são considerados práticas de Climate-Smart Agriculture (CSA). A CSA visa transformar e reorientar a agricultura para alcançar maior sustentabilidade e resiliência econômica, social e ambiental, garantindo a segurança alimentar e mitigando as emissões de gases de efeito estufa. Nas próximas décadas, a agropecuária brasileira enfrenta o desafio de aumentar simultaneamente a produção de alimentos, fibras e energia, enquanto reduz as emissões desses gases, que hoje correspondem a cerca de 25% das emissões nacionais, com o metano da atividade pecuária sendo a principal fonte.

“Converter áreas de pastagens degradadas e agricultura convencional para práticas de CSA, especialmente para sistemas integrados de produção, tem elevado potencial para mitigar a emissão de gases. Isso inclui a redução das emissões de metano (CH4) entérico por produto, como, por exemplo, em cada quilograma de carne produzido e o funcionamento do solo como um dreno desse gás”, aponta Wanderlei Bieluczyk, pós-doutorando no Cena e primeiro autor do artigo. “A quantidade de dados de emissões de gases de efeito estufa medidas a campo ainda é baixa no Brasil, dificultando extrapolações (com baixa incerteza) para todos os biomas brasileiros.”

O estudo revela que há poucos pesquisadores e instituições atuando nessa área em importantes regiões do País, como Norte e Nordeste, evidenciando a necessidade de apoio à infraestrutura e recursos para aumentar o número de estudos em regiões de baixa representatividade espacial. Os autores recomendam que haja uma busca por aprimoramentos metodológicos e oportunidades de pesquisa, incluindo a urgência de priorizar medições frequentes de dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nítrico (N2O) em múltiplos sistemas de CSA ao longo de vários anos. “Isso permitirá cálculos confiáveis de balanço de carbono e removerá barreiras decorrentes da falta de resultados abrangentes para implementar programas de certificação, e incluir sistemas de CSA no mercado de carbono e em outros mecanismos de finanças verdes”, destaca o professor Cherubin.

Os pesquisadores reforçam que os resultados deste estudo são importantes para refinar o inventário nacional de gases de efeito estufa, bem como servem de evidência científica sobre o potencial de soluções baseadas na natureza, e assim, para apoiar novas políticas, projetos e investimentos no Brasil. O estudo está vinculado às atividades de duas instituições da USP, o Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical (CCarbon), financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), e o Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI), apoiado pela Fapesp e pela Shell. O artigo pode ser lido neste link.

*Da Assessoria de Comunicação da Esalq, adaptado para o Jornal da USP
Foto: Foto: Tony Oliveira/Agência Brasília
Fonte: Jornal da USP

Sair da versão mobile