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Girassol: possibilidade de expansão no Brasil

O girassol (Helianthus annuus L.) é uma planta que se define pelo nome comum e pelo nome botânico, tendo em vista que o gênero deriva do grego helios (sol) e anthus (flor), referindo-se à característica da planta de girar sua inflorescência seguindo o movimento do sol. É originário da América do Norte, sendo o México o local de sua domesticação. No século XVI, foi levado por conquistadores espanhóis para a Espanha e em seguida difundido para o Continente Europeu. Presume-se que o cultivo do girassol no Brasil teve início na época da colonização da região Sul do Brasil, no final do século XIX, trazido pelos primeiros colonos europeus.

O girassol é cultivado no mundo principalmente como fonte de óleo comestível, com sabor suave, coloração dourada e alto valor nutricional. Considerando as culturas de grãos, o óleo de girassol é o terceiro mais consumido no mundo e um dos mais apreciados na culinária. No mercado brasileiro, existem dois tipos de óleo refinado de girassol: o tradicional, com teor normal de ácido oleico e rico em ácido linoleico, e o tipo alto oleico, com teor de ácido oleico por volta de 80%, muito similar ao azeite de oliva. O consumo regular de óleo com alto teor de ácidos graxos insaturados na dieta pode auxiliar na redução do LDL-colesterol (mau colesterol). Teores elevados de ácido oleico conferem adicionalmente aos óleos vegetais maior estabilidade oxidativa durante os processos de refino e de estocagem, bem como na sua utilização na indústria alimentícia ou em frituras.

O girassol é famoso não só pela qualidade do óleo ou pela beleza das flores. É conhecido, também, como fonte de proteína para alimentação animal na forma de farelo ou na composição de rações e como silagem, com grande aceitação em sistemas integrados de produção. Na alimentação humana, os grãos podem ser utilizados para confeitaria ou consumidos torrados, comum em muitos países, sendo uma boa fonte de proteínas, fibras, flavonoides, vitamina E, zinco, ferro, entre outros. Um mercado bastante conhecido é o de grãos para alimentação de pássaros. Existe a possibilidade de produção integrada de mel de excelente qualidade, além de pólen, uma vez que a flor de girassol é bastante atrativa para abelhas.

O cultivo do girassol é uma opção de diversificação nos sistemas de sucessão e rotação nas regiões produtoras de grãos no Cerrado brasileiro, como cultura de segunda safra. Nessas regiões, ainda é possível aproveitar o final das chuvas para semear o girassol em função da maior capacidade de desenvolvimento radicular e outros mecanismos de tolerância ao estresse hídrico. O girassol é reconhecido por beneficiar a cultura em sucessão pela baixa capacidade de exportação de nutrientes pelos grãos e, em função do profundo sistema radicular, explorar grande volume de solo, absorvendo nutrientes que já estavam fora do alcance de outras culturas, como por exemplo o potássio (K) que, em solos mais arenosos, tem maior possibilidade de lixiviação.

Novos mercados

Apesar de ser originário da América do Norte, com sua introdução no velho mundo, principalmente como planta ornamental, a expansão mais significativa do seu cultivo ocorreu na Europa, principalmente nos países do Leste Europeu, como cultura fornecedora de óleo comestível. No entanto, face à qualidade do óleo, a produção disseminou-se pelos outros continentes.

Na última década, Rússia e Ucrânia destacam-se como os líderes globais da produção da oleaginosa. A Ucrânia foi responsável por 26% da produção mundial de grãos em 2020. Os dois países somaram 53% da produção de óleo de girassol do mundo na safra 2021/2022, que é exportado para diversos países da Europa e Oriente Médio (Figura 1).

Figura 1. Principais países produtores de grãos de girassol no mundo.
Fonte: USDA (2023).

O conflito Rússia-Ucrânia tem afetado significativamente a agricultura dos países e, consequentemente, a produção mundial de girassol. No caso da Rússia, não há indícios de interrupção das lavouras, mas as sanções internacionais trouxeram um impacto significativo nas exportações de todos os produtos russos. Já a Ucrânia, afetada diretamente pelo teatro de guerra, teve a produção de girassol severamente impactada, passando de 17,5 milhões de toneladas de grãos de girassol em 2021 para 10,5 milhões em 2022. Se as próximas safras de girassol da Ucrânia se tornarem muito comprometidas ou não puderem ser exportadas, haverá escassez dos produtos derivados do girassol em muitos países importadores ao redor do mundo.

Apesar da tragédia da guerra, abre-se uma grande oportunidade de mercado para países produtores emergentes, como o Brasil. Aqui, o girassol continua sendo uma lavoura de segunda safra, com área e produção aproximadas de 42 mil hectares e 60 mil toneladas de grãos, respectivamente, estimadas para a safra 2022/2023. Os estados de Mato Grosso e Goiás são os principais produtores de girassol, onde geralmente é cultivado em segunda safra, após a soja (Figura 2). Ainda é pouco para o girassol, que conta com um gigantesco potencial de suceder o cultivo da soja, a principal cultura de grãos que, na safra principal de verão, ocupa aproximadamente, 40 milhões de hectares no país.

Figura 2. Área cultivada, produção de grãos e produtividade de girassol, nas principais Unidades Federativas do Brasil.
Fonte: Conab (2023).

Cuidados no manejo

A semeadura é um dos passos mais importantes no cultivo do girassol. É uma operação delicada que, em função da baixa densidade da semente, deve ser capaz de distribuir com precisão cerca de 3 a 4 kg/ha. Assim, a operação de semeadura é fundamental para se obter uma lavoura uniforme e com a densidade de plantas desejada. De modo geral, as maiores produtividades são obtidas com população variando entre 40 mil e 45 mil plantas por hectare. Entretanto, essa população pode variar em função da cultivar e das condições edafoclimáticas. Do mesmo modo, o espaçamento entrelinhas pode variar de 0,5 m a 0,7 m, em função da semeadora e da colhedora disponível.

A época de semeadura varia de acordo com a região. No Centro-Oeste, o girassol adapta-se ao cultivo de segunda safra, no sistema de produção de sucessão soja-girassol, com semeadura ocorrendo do final de fevereiro a meados de março. É interessante observar que os agricultores citam outras vantagens do sistema, como a ausência de competição da janela de semeadura do girassol com outras culturas, principalmente o milho safrinha e a maior tolerância do girassol ao déficit hídrico. Isso tem permitido que o produtor tenha mais uma opção de cultivo para essa época, agregando renda e melhorando a eficiência de uso da terra.

Outro passo importante para o sucesso da lavoura é a escolha das cultivares de girassol, que deve considerar também o destino final da produção. O mercado de alimentação de pássaros prefere grãos rajados de preto e branco, pela maior facilidade dos pássaros separarem as amêndoas das cascas. Para a indústria de óleo, já existem no país sementes de diversas variedades e híbridos disponíveis aos agricultores, com elevado potencial de rendimento de grãos e com teor de óleo variando de 40 a 50%.

O cultivo de girassol deve ser preferencialmente destinado às áreas que adotem práticas de manejo melhoradoras das características físicas do solo, pois o girassol é sensível à compactação do solo. A quantidade de adubo necessária para o cultivo do girassol é função dos teores dos nutrientes existentes no solo e quantificados pela análise de solo. Cabe salientar que a correção e adubação do girassol deve considerar as demais culturas do sistema de produção no qual ele está inserido.

Quanto às doenças, as mais importantes são a mancha de Alternaria (Alternariaster helianthi) e a podridão-branca ou mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum). A mancha de Alternaria, que afeta principalmente as folhas, mas também a haste e o capítulo, torna-se mais severa em condições de altas temperatura e umidade, podendo causar danos à produção. Assim como muitas culturas, o girassol é hospedeiro suscetível ao mofo-branco e, portanto, não deve ser cultivado em áreas com histórico da doença. Além isso, a escolha da época de semeadura é fundamental para minimizar os danos. Cabe salientar que a indicação da época de semeadura deve satisfazer às exigências da planta nas diferentes fases de desenvolvimento e não favorecer a ocorrência de doenças.

Assim como a semeadura, a colheita de girassol é uma operação crucial, em que grandes perdas podem ocorrer se pequenos detalhes não forem seguidos, como a umidade dos grãos, a ventilação, a velocidade de operação e a época de colheita, entre outras. A colheita pode ser efetuada com colhedoras de milho ou de soja, equipadas com plataforma modificada ou, preferencialmente, utilizando plataformas especiais para o girassol. Essas plataformas são eficientes e possibilitam reduzir as perdas de grãos, resultando em menor quantidade de impurezas.

Desafios futuros

A principal limitação para um avanço significativo da cultura no Brasil reside na falta de uma cadeia bem estruturada para comercialização e rápida absorção do aumento da produção. Para poder processar e comercializar a produção gerada pela eventual expansão da área cultivada, as indústrias necessitariam aumentar sua capacidade de processamento de grãos e farelos, bem como ampliar seus negócios para novos mercados, principalmente o asiático e o europeu.

Os desafios que o girassol enfrenta no Brasil são basicamente três: oferecer aos produtores uma cultura rentável que possibilite uma segunda colheita, sobre a mesma área e no mesmo ano agrícola, com estabilidade e sustentabilidade; oferecer mais uma matéria-prima oleaginosa às indústrias de processamento de grãos, reduzindo sua ociosidade; e, finalmente, oferecer ao mercado um óleo comestível de alto valor nutricional e uma excelente matéria-prima para produção de ração animal.

Diante do cenário descrito, a sustentabilidade econômica do girassol depende não só do manejo adequado da cultura, mas obrigatoriamente do crescimento do setor agroindustrial nacional, que poderá aproveitar a oportunidade surgida com novos mercados consumidores. Ainda há um longo e promissor caminho a ser percorrido para que o girassol se torne uma cultura expressiva no país.

Elaborado por
Regina Maria Villas Bôas de Campos Leite

Fonte: Revista Cultivar

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