O inverno seco deste ano não deve afetar a produtividade e a qualidade do café que sai das lavouras da Fazenda Lagoinha, em Carmo da Cachoeira, no sul de Minas Gerais. Sob a grossa camada de matéria seca que há sobre o solo, a terra ainda está úmida, o que reflete um zelo contínuo com os 100 hectares de cafezais da propriedade.
“Solo sadio é sinônimo de planta sadia, e uma planta sadia é sinônimo de pessoas sadias”, resume a produtora Tatiana Chagas Reis. Filha de cafeicultor, ela e o marido decidiram, há quatro anos, voltar a morar no campo para retomar a atividade. Já no primeiro ano, os dois depararam com um dos maiores problemas da agropecuária na atualidade: um clima cada vez mais instável e imprevisível.
“Costumamos dizer que a natureza não perdoa, e vimos isso na prática quando plantávamos e enfrentávamos muita chuva”, lembra o marido de Tatiana, Matheus Avelar Dominguito, que hoje está à frente da gestão da fazenda. Foi dele a iniciativa de investir na produção de café – e dela a busca por práticas mais sustentáveis.
O trabalho desenvolvido na Fazenda Lagoinha foi reconhecido na oitava edição do Prêmio Fazenda Sustentável, uma iniciativa da Globo Rural em parceria com o Rabobank e o Imaflora, e com patrocínio de Cargill e TIM. A fazenda ficou em terceiro lugar na categoria Média Propriedade.
O ponto de partida foi o plantio de espécies de cobertura nas entrelinhas do grão. Três anos depois desse movimento, a fazenda já soma práticas que a tornaram carbono zero, segundo cálculos de uma das nove certificadoras que já passaram pela propriedade.
Além do plantio de árvores com funções ecossistêmicas, como a fixação de nitrogênio no solo, a Lagoinha também erradicou o uso de herbicidas e mantém parceria com apicultores para distribuição de cerca de 100 colmeias – as abelhas ajudam na polinização do café. “Tudo isso tem um custo adicional, mas nós entendemos que esse é um seguro que nós estamos fazendo. Num quadro como o atual, com uma seca absurda, temos quase 10 centímetros de solo coberto e úmido”, destaca Matheus. Segundo ele, converter as práticas de manejo do café para agricultura regenerativa exigiu um investimento de R$ 4.000 por hectare. O custo anual da fazenda subiu entre 10% e 15%.
Para o empresário Carlos Eduardo Canellas da Cunha, investidor do negócio, o aumento do custo não é um problema. As práticas que a propriedade adotou até aqui, argumenta, são fundamentais para a qualidade do café da Lagoinha. “Como é que você pode dizer que tem um café especial, de qualidade, se ele tem resíduo químico?”, indaga Canellas, que nasceu e cresceu no Rio de Janeiro e diz ter sido “picado” pelo café, que o fez se transformar em um defensor da agricultura regenerativa.
Houve ganhos em serviços ambientais e na qualidade do grão, mas, segundo ele, as novas práticas não se converteram em retorno financeiro. “Nós fazemos tudo por princípio, porque não vimos nenhum ganho econômico. Fazemos porque realmente acreditamos que esse é o modelo que temos que fazer”, ressalta.
Fazenda Lagoinha – Carmo da Cachoeira (MG)
Quatro anos depois do início do cultivo com práticas regenerativas, a Lagoinha já identificou o retorno paulatino da fauna local, incluindo espécies que ajudam a reduzir o uso de insumos para controle de pragas. Tatiana vê os resultados como um legado que ficará para as futuras gerações. “As árvores que plantamos não são para nós três nos sentarmos na sombra, mas sim para nossos filhos, netos e outros descendentes”, diz.
Foto: André Felipe Silverio Neubern
Fonte: GloboRural
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