São milhões, como se sabe, os amantes de cerveja no Brasil. Mas alguns a apreciam de forma tão intensa, preocupam-se tanto com sua qualidade, que resolveram ter sua própria plantação de lúpulo, uma das matérias-primas essenciais da bebida. A planta é a ‘alma aromática’ da cerveja e seu cultivo vem ganhando espaço no país na última década, especialmente entre jovens, para atender microcervejarias.
Um desses jovens que resolveu produzir o próprio lúpulo é Gabriel Purri, de Mateus Leme (MG). Em 2019, ele e Thiago Fenelon criaram a Mundo Hop e começaram a testar o lúpulo em uma propriedade de quatro hectares. Hoje, a empresa já é a maior produtora de lúpulo do país.
De 2019 até agora, a Mundo Hop investiu mais de R$ 3 milhões em pesquisa, infraestrutura e experimentos, o que foi muito importante para o salto do empreendimento, segundo Purri.
Com 10 mil plantas, a empresa colhe 15 toneladas ao ano. O número ainda é pequeno, mas é um dos responsáveis pelo avanço da produção no Brasil. Em 2023, o país atingiu a marca de 88 toneladas colhidas, alta de 203% em relação ao ano anterior, de acordo com dados da Associação Brasileira de Produtores de Lúpulo (Aprolúpulo). A área cultivada cresceu 133%, alcançando 111,8 hectares no mesmo intervalo.
Tropicalização
Em comparação com a maior produtora global de lúpulo, a Alemanha, —que responde por mais de 37% da produção, com 33,2 mil toneladas anuais — o Brasil ainda engatinha. Mas, para o setor, o avanço recente mostra que é possível “tropicalizar” o lúpulo, uma planta nativa de áreas de clima temperado.
Como observa Purri, há potencial de crescimento, em especial, pelo forte interesse das microcervejarias nacionais em um produto 100% brasileiro a fim de terem blends únicos.
Outro amante da cerveja que convenceu o pai Valter Gonçales a produzir lúpulo é Fernando Gonçales, de Itapetininga (SP). Eles têm dois hectares plantados, e o objetivo é terminar o ano com quatro toneladas vendidas para cervejarias locais. Os Gonçales plantam 14 variedades, das quais quatro são cultivadas em escala comercial e dez, em testes.
A 70 km da área urbana de Itapetininga, Camila Gross também cultiva lúpulo no sítio da família, que deixou de ser espaço de lazer e se transformou na principal atividade da publicitária paulista. Ela entrou na cadeia “sem querer, mas por beber”, diz. Desde 2019, ela trabalha com a planta e conseguiu cruzar mudas de origem americana e neozelandesa que têm abastecido, principalmente, microcervejarias de São Paulo. Por ano, a propriedade produz, em média, duas a três toneladas.
O presidente da Associação Brasileira da Cerveja Artesanal, Gilberto Tarantino, observa que enquanto fazendas de países grandes produtores de lúpulo têm por volta de 500 hectares com a planta, os brasileiros que se aventuram na cultura têm mostrado que é possível produzir em pequenas áreas, e “com tecnologia e irrigação, ter alta produtividade por planta”.
Santa Catarina lidera
Os últimos dados apontam que há hoje 114 produtores espalhados por 13 estados e 99 municípios brasileiros. Santa Catarina é a maior produtora, com 34 hectares cultivados, seguida de São Paulo, que tem uma área de 24,4 hectares, de acordo com a associação de produtores, a Aprolúpulo.
Fonte: Globo Rural
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