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Clorose Variegada do Citros (CVC): manejo e controle são essenciais para a produtividade dos citros

A Clorose Variegada do Citros (CVC), popularmente conhecida como amarelinho, é uma das principais doenças da citricultura brasileira, atingindo todas as variedades comerciais, independente do porta-enxerto utilizado. No Brasil, as primeiras observações da CVC foram feitas em meados de 1987, no Triângulo Mineiro e na região norte e nordeste do estado de São Paulo. A disseminação da doença é realizada por doze espécies de cigarrinhas da subfamília Cicadellinae (Hemiptera: Cicadellidae) que, ao se alimentarem do xilema de uma planta doente, adquirem a bactéria Xylella fastidiosa e a transmitem às sadias. Dentro do vegetal, multiplicam-se e obstruem os vasos do xilema, responsáveis por levar água e nutrientes das raízes para as folhas. 

Até a década de 1990, as cigarrinhas da família Cicadellidae não apresentavam grande importância para a citricultura. Porém, em 1996, com a comprovação de que estes insetos transmitiam a Xylella fastidiosa, o cenário começou a mudar. As principais espécies vetores da bactéria são Acrogonia citrina, Bucephalogonia xanthophis, Dilobopterus costalimai e Oncometopia facialis (Figura 1). As outras cigarrinhas possuem menor importância, pois se alimentam principalmente de gramíneas e possuem baixa densidade populacional nos citros.  

Figura 1. Principais cigarrinhas vetores da bactéria Xylella fastidiosa: (A); Bucephalogonia xanthophis (B); Dilobopterus costalimai (C); e Oncometopia facialis (D).
Fonte: Adaptado de National Museum Wales – Department of Natural Sciences.

Em comparação às demais pragas dos citros como a falsa ferrugem (Phyllocoptruta oleivora), bicho furão dos citros (Ecdytolopha aurantiana) e a cochonilha ortézia (Orthezia praelonga), a população das cigarrinhas é baixa. Entretanto, devido à grande gama de hospedeiros onde se reproduzem, as infestações nos pomares são altas. 

As espécies arbóreas e arbustivas localizadas em matas, florestas e brejos vizinhos aos talhões de citros são utilizadas como hospedeiros para alimentação e reprodução das cigarrinhas, de onde os adultos migram para os pomares. Essas cigarrinhas se reproduzem fora dos pomares, pois a citricultura é caracterizada por um grande número de pulverizações, afetando o aumento populacional destes insetos, principalmente no estágio de ninfa. 

Apesar de serem encontradas ao longo do ano, a maior incidência de cigarrinhas ocorre na primavera e verão, devido as brotações das laranjeiras e condições climáticas favoráveis. No estado de São Paulo, maior produtor de citros, as infestações ocorrem com maior frequência no Norte, devido ao clima mais quente. No sul paulista, apesar da melhor distribuição de chuvas e menor déficit hídrico, a temperatura mais amena limita a população das cigarrinhas. 

Estudos comprovam que os insetos vetores das bactérias podem adquiri-las alimentando-se de plantas doentes por cerca de uma hora e meia, tempo considerado baixo. Apesar disso, a maior taxa de aquisição da Xylella fastidiosa ocorre quando as cigarrinhas se alimentam dos citros por, no mínimo, 48 horas. Uma vez infectados, os vetores podem transmitir a bactéria para plantas sadias até o final de sua vida. 

Com a obstrução dos vasos do xilema, os primeiros sintomas da doença são observados nas folhas, estendendo aos frutos no estágio mais avançando. Inicialmente, a clorose ataca na porção superior, com lesões de coloração palha no inferior das folhas (Figura 2). Com a evolução da doença, as lesões ocupam os dois lados do limbo foliar. Nas folhas mais jovens, não há manifestação da doença. 

Nos frutos o principal sintoma é o baixo desenvolvimento, conforme o agravamento da doença, apresentam queimaduras pelo sol, tamanho reduzido, endurecimento e maturação precoce, podendo perder até 75% do peso. Quando a doença atinge esse estágio de desenvolvimento, a comercialização fica completamente prejudicada. Ao contrário do Greening (Huanglongbing), não acontece deformação ou queda dos frutos. 

Figura 2. Sintomas da Clorose Variegada do Citros: lado superior da folha (A); frutos reduzidos (B); lado inferior da folha (C).
Fonte: Adaptado de SANTOS FILHO (2010).

Para o controle da CVC, a principal recomendação é o manejo integrado, baseando-se em quatro estratégias: utilização de mudas sadias, poda dos ramos com sintomas iniciais, eliminação das plantas doentes em estágio avançado, além do controle dos vetores da doença. 

As mudas sadias asseguram ao citricultor a entrada da bactéria Xylella fastidiosa na propriedade. É preciso verificar se o viveiro é certificado, se adota as medidas de segurança na produção de mudas teladas e se respeita as regras sanitárias estabelecidas pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento da região. 

A poda é uma das medidas mais importantes no controle da doença, pois evita a proliferação da bactéria na planta e elimina as fontes de inóculo do pomar. Deve ser feita assim que forem identificados os primeiros sinais da doença. Se um citros com sintomas iniciais de CVC for manejado inadequadamente, ocorrerá a evolução da doença, servindo de fonte de contaminação para outras plantas. Em árvores com sintomas severos é necessária a completa eliminação, pois a bactéria já está disseminada no vegetal.

A inspeção do pomar deve ser realizada entre os meses de janeiro e julho, época em que a doença fica mais evidente. Quanto mais precoce a identificação, maior a eficiência da poda. O galho com sintoma deve ser identificado com uma marca ou fita e o corte feito em uma forquilha, com mais de 70 cm de distância dos sintomas (Figura 3). Nos locais que foram serrados, é aplicada uma pasta cúprica de proteção contra a entrada de fungos e bactérias. 

Figura 3. Poda de ramo de citros com sintoma de CVC.
Fonte: Casa do Produtor Rural – ESALQ/USP

Por precaução, as serras devem ser desinfestadas com bactericida (amônia quaternária) antes do corte. As plantas com menos de dois anos com sintomas devem ser erradicadas e substituídas por mudas sadias.

Para o monitoramento e redução populacional do vetor da CVC, é necessária uma correta amostragem populacional das espécies de cigarrinhas, que pode ser realizada de três formas: armadilha adesiva amarela, observação visual ou rede entomológica. Em todos os métodos, é necessário treinamento para identificação correta da praga. O controle químico se faz apenas quando constatada uma infestação de pelo menos 10% das plantas de um talhão, independente da espécie. De acordo com o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), os produtos mais indicados para o controle das cigarrinhas são a base de piretroides e neonicotinoides, com a dosagem recomendada pelo fabricante. É importante que as pulverizações sejam criteriosas e sigam as indicações de aplicação, pois o uso indiscriminado pode eliminar inimigos naturais, responsáveis pelo controle de cerca de 40% da população de cigarrinhas no pomar. 

O Brasil é o maior produtor mundial de laranja, com mais de 18 milhões de toneladas e cerca de 30% da safra mundial. Portanto, a citricultura tem grande importância econômica e social, gerando renda e desenvolvimento de outros setores da economia brasileira. Diante disso, o manejo e o controle adequado da CVC são extremamente importantes na manutenção dos altos índices de produtividade.

Elaborado por Casa do Produtor Rural Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ/USP Luccas Novaes de Paiva Graduando em Engenharia Agronômica Estagiário – Casa do Produtor Rural – ESALQ/USP Acompanhamento técnico Fabiana Marchi de Abreu Engenheira Agrônoma CREA 5061273747 Casa do Produtor Rural Coordenação editorial Marcela Matavelli Agente de Comunicação DRT 5421SP Casa do Produtor Rural
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