As mudanças climáticas já têm gerado impactos significativos em todas as regiões do Brasil, evidenciando a urgência de soluções para mitigar esses efeitos no setor agropecuário. A recente seca extrema na Amazônia e o aumento das precipitações nos estados do Sul, assim como em partes de São Paulo e Mato Grosso do Sul, são exemplos preocupantes que ameaçam a produção agrícola.
Um estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) revela que, nos últimos 60 anos, o número médio de dias consecutivos sem chuvas (com precipitação inferior a 1 mm) aumentou de 80 para 100. Essa alteração sugere um agravamento na frequência e intensidade dos efeitos das mudanças climáticas, reforçando a necessidade de desenvolver soluções que ajudem os produtores rurais a se adaptarem a esse novo cenário.
O Grupo de Trabalho de Agricultura do G20, composto pelos países com as maiores economias do mundo, reconheceu a urgência do tema ao aprovar, por unanimidade, uma declaração histórica que prioriza a sustentabilidade agrícola, a resiliência dos sistemas produtivos e o enfrentamento das mudanças climáticas. Essa ação reafirma o compromisso global em buscar respostas para os desafios que afligem o setor agropecuário.
Para Maria Fernanda Lopes de Freitas, professora e coordenadora do curso de graduação em AgroDigital da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), a combinação de tecnologias e práticas sustentáveis é um caminho viável e imprescindível. “A tecnologia é uma aliada fundamental para otimizar processos, recursos e promover uma agricultura mais sustentável, independentemente do tamanho das propriedades. Soluções como manejo e monitoramento sustentável da água e do solo, sistemas de integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF), agricultura de baixo carbono, taxa variável e tecnologias de irrigação eficientes podem ser implementadas”, destaca.
Inovações de Baixo Custo
Maria Fernanda ressalta que o conceito de tecnologia no agronegócio vai além de máquinas modernas. “O manejo correto do solo é uma tecnologia acessível que contribui diretamente para a sustentabilidade, uma vez que os solos atuam como grandes captadores de carbono. São técnicas baseadas em ciência que ajudam a otimizar a produção”, explica. Muitas dessas inovações são de baixo custo e estão disponíveis para todos os agricultores, independentemente do tamanho de suas propriedades.
Soluções Práticas e Sustentáveis
A adoção de tecnologias sustentáveis já demonstra resultados práticos e mensuráveis. Um exemplo é a utilização de tanino, extraído da casca de acácias negras, como suplemento alimentar para o gado. Essa abordagem não apenas melhora a produtividade, mas também reduz as emissões de metano, um potente gás de efeito estufa.
Ademais, a eficiência dos equipamentos e a aplicação rigorosa de agroquímicos minimizam os impactos ambientais e os riscos para os trabalhadores rurais. Práticas como adubação verde, rotação de culturas e plantio direto promovem a saúde do solo, aumentando sua capacidade de retenção de água e carbono, o que ajuda a mitigar os efeitos adversos das mudanças climáticas.
Maria Fernanda enfatiza a importância da pesquisa e do desenvolvimento para garantir a sustentabilidade do agronegócio no futuro. Investimentos em variedades de culturas mais resistentes às mudanças climáticas e em sistemas de produção mais eficientes e sustentáveis são essenciais para aumentar a resiliência do setor e assegurar a segurança alimentar no Brasil.
Capacitação e Oportunidades
Entretanto, para que essas tecnologias sejam implementadas de maneira eficaz, a capacitação dos produtores é fundamental. Esse representa um dos principais desafios do agronegócio brasileiro. Um levantamento da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), realizado em setembro de 2024, indica um déficit de mão de obra operacional de 10 mil trabalhadores no Estado. De acordo com um estudo da 360 Research & Reports, a agricultura digital deve crescer 183% até 2026, gerando cerca de 178,8 mil novos empregos na área nos próximos dois anos.
Investir em qualificação é crucial, e uma das iniciativas em destaque é a formação em AgroDigital oferecida pela PUCPR. O curso, na modalidade de ensino à distância, está alinhado às demandas do mercado e oferece disciplinas como Inteligência Artificial, Internet das Coisas (IoT), Ciência de Dados, Big Data, Machine Learning, Modelagem de Culturas, Agricultura de Precisão e Smart Farms. A próxima turma está prevista para fevereiro de 2025, e mais informações podem ser encontradas na página oficial do curso.
Fonte: Portal do Agronegócio